CORPO E POLÍTICA: UMA LEITURA SOBRE ELISABETH DA BOÊMIA
Resumo
Sou um corpo em meio a outros corpos. Descartes afirma isso na Sexta Meditação quando inicia a análise da sensação, visando demonstrar a existência dos corpos. O que são os outros corpos do ponto de vista de um sujeito de conhecimento? Aparentemente, o filósofo jamais pôde contemplar o aspecto político dessa consideração – sou um corpo em meio a outros corpos.
A Sexta Meditação demonstra a distinção radical entre alma e corpo e a união de fato entre alma e corpo no ser humano. Elisabeth da Boêmia, interlocutora de Descartes, é a primeira a apontar a contradição na letra da Sexta Meditação, do ponto de vista da interação entre alma e corpo. Elisabeth sugere que é mais fácil conceber a alma como material do que supor a influência real entre duas substâncias radicalmente distintas. Elisabeth teria uma concepção material da alma? O que o diálogo epistolar entre Elisabeth e Descartes mostra é a presença do corpo nas reflexões de Elisabeth, presença do corpo físico e do corpo político. Talvez Elisabeth entenda melhor do que Descartes o que é ser um corpo em meio a outros corpos.Texto completo:
PDFReferências
BELGIOIOSO, Giulia (2014). “Descartes, Élisabeth et le cercle cartésien de La Haye” in PELLEGRIN, M.F. et KOLESNIK-ANTOINE, D. (dir.), Élisabeth de Bohême face à Descartes : deux philosophes ? Paris : Vrin, p.13-44.
BUTLER, Judith (2018). Corpos em aliança e a política das ruas. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
DESCARTES, R. (1973). Meditações metafísicas. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural.
__________ (1973b). As paixões da alma. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural.
CARDOSO, Adelino e FERREIRA, Maria Luísa (orgs.) (2001). Medicina dos afetos. Correspondência entre Descartes e a Princesa Elisabeth da Boêmia. Oeiras: Celta Editora.
CHAUI, Marilena (2000). “Apresentação”, Revista Discurso, 31, São Paulo.
ELIAS, Norbert (1996) A sociedade de corte. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
FOUCAULT, M. (2013). O corpo utópico (série radiofônica sobre utopia, 7/12/1966). São Paulo: n-1 edições.
KOLESNIK-ANTOINE, Delphine (2014). “Élisabeth philosophe : un cartesianisme empique ? ” in PELLEGRIN, M.F. et KOLESNIK-ANTOINE, D. (dir.), Élisabeth de Bohême face à Descartes : deux philosophes ? Paris : Vrin, p.119-137.
LEOPOLDO E SILVA, Franklin (2005). Descartes. A metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna.
MUHANA, Adma (2000). “O gênero epistolar: diálogo per absentian”. Revista Discurso, 31, São Paulo.
SHAPIRO, Lisa (1999), “Princess Elisabeth and Descartes: the union of soul and body and the practice of philosophy”, British Journal for the History of Philosophy 7, n.3, p.503-20.
________ (2001), “Volume Editor’s Introduction” in The correspondence between Princess Elisabeth of Bohemia and René Descartes. Chicago and London: The University of Chicago Press.
PELLEGRIN, Marie-Frédérique (2014). “Élisabeth, ‘chef des cartésiennes de son sexe’“ in PELLEGRIN, M.F. et KOLESNIK-ANTOINE, D. (dir.), Élisabeth de Bohême face à Descartes : deux philosophes ? Paris : Vrin, p.45-61.
PINSKY, Carla (2017) “Apresentação” in PERROT, Michelle, Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto.
DOI: http://dx.doi.org/10.13102/ideac.v1i42.5455
Apontamentos
- Não há apontamentos.