AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE DISTÚRBIOS ORAIS POTENCIALMENTE MALIGNOS VISANDO A PREVENÇÃO DO CÂNCER DE BOCA
Resumo
Introdução
O Carcinoma de Células Escamosas (CCE) representa mais de 90% das lesões malignas localizadas em cavidade oral, tendo sido documentado em associação ou precedido por um grupo de lesões denominadas de distúrbios orais potencialmente malignos (DOPMs) (RAMOS et al., 2017). A leucoplasia, leucoplasia verrucosa proliferativa, eritroplasia, queilite actínica, fibrose submucosa, líquen plano e atrofia por deficiência de ferro são classificadas como DOPMs (VAN DER WAAL, 2010), podendo assumir o caráter de um tumor maligno a qualquer tempo (NEVILLE et al., 2009).
O tecido epitelial oral pode apresentar alterações morfológicas em que a combinação de anormalidades citológicas e distúrbios arquiteturais compreendem os critérios histopatológicos para o diagnóstico de displasias epitelial oral (DEO)(BRENNAN et al., 2007).
As maiores possibilidades de cura para o câncer de boca estão associadas ao diagnóstico precoce, tornando indispensável a redução de fatores de risco e a identificação de lesões precursoras da doença. O rastreamento das DOPMs pode se constituir uma importante ferramenta de identificação de indivíduos pertencentes ao grupo de risco (POH et al. 2006).
Desta forma, o objetivo deste trabalho visou desenvolver ações integradas de extensão-ensino-pesquisa para a redução de fatores de risco e identificação e controle das DOPMs no município de Feira de Santana, de modo a facilitar a prevenção de câncer de boca a partir de ações d0 Centro de Referência em Lesões Orais, do Núcleo de Câncer Oral, da Universidade Estadual de Feira de Santana (CRLB-NUCAO-UEFS).
Materiais e Métodos
As atividades de educação em saúde foram realizadas por discentes do curso de odontologia da UEFS em feiras de saúde e em algumas unidades de saúde da família (USF) do município de Feira de Santana. Considerando que os fatores de risco mais importantes para o aparecimento das DOPMs são de origem sócio-ambiental, foram adotados procedimentos para o esclarecimento da população, utilizando uma linguagem adequada ao nível sócio-cultural dos grupos de risco, alertando especialmente sobre os efeitos do uso do tabaco e das bebidas alcoólicas. Associado às atividades educativas, foram realizadas atividades de screening (rastreamento), em que os indivíduos foram submetidos ao exame da cavidade oral, com o objetivo de identificar possíveis DOPMs e ou malignas. A partir da sua identificação, os indivíduos foram referenciados para atendimento no CRLB-NUCAO-UEFS.
Integrando-se as atividades de pesquisa, foi realizado o levantamento epidemiológico dos DOPMs neste serviço, no período de 2005 a 2019, utilizando como ferramenta uma ficha de coleta. Os dados foram analisados com auxílio do SPSS, na versão 2.0. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UEFS, segundo CAAE: 0086.059.000-08.
Resultados e Discussão
A atividade de educação em saúde e rastreamento de lesões orais potencialmente malignas e/ou malignas (ver quantitativo na Tabela 1) foi realizada na Feira da Solidariedade, desenvolvida pela Igreja Católica Senhor dos Passos, e nas feiras de saúde promovida pelas USF do Feira VI e VII (Imagem 1). Os estudos de Poh et al. (2006) destacam a importância da identificação precoce de condições que predispõem o indivíduo ao desenvolvimento d0 câncer de boca. O tabagismo e o etilismo se destacam como sendo os principais fatores de risco para o desenvolvimento do CCE, sobretudo em homens a partir da quarta década de vida (WARNAKULASURIYA, 2009).
No CRLB-NUCAO-UEFS foram diagnosticados 88 casos de DEOs. O exame histopatológico das lesões diagnósticas no presente estudo apresentou displasia leve em 30,7% da amostra, displasia moderada em 38,6% e displasia severa também em 30,7% (Tabela 2). A presença de DEO é um indicador do potencial de malignidade das DOPMs, e o risco dessas lesões de progredir para carcinoma aumenta com os graus crescentes de displasia epitelial (LIU et al., 2011).
No presente estudo, o sítio anatômico mais afetado foi o labio inferior com 23,2%, seguido pelo palato com 20,7% e da língua com 15,9%. A predominância do lábio inferior como sítio anatômico de acomentimento por DEOs pode ser explicada pela maior frequência de exposição ocupacional à radiação ultravioleta e à menor probabilidade de uso de protetor solar, protetor labial ou chapéu, pois, sabe-se que a exposição inadvertida e desprotegida à radiação solar é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento da Queilite Actínica e CCE.
Tabela 1. População beneficiada nas atividades de educação em saúde.
DESCRIÇÃO DA POPULAÇÃO ATENDIDA
QUANTITATIVO
NÚMERO DE
INDIVÍDUOS ATENDIDOS
NÚMERO DE INDIVIDUOS QUE PASSARAM PELO RASTREMENTO
NÚMERO DE
ENCAMINHADOS
Feira da Solidariedade desenvolvida pela Igreja Católica Senhor dos Passos
17
12
0
Feira de Saúde da Unidade de saúde da Família do bairro Feira VI e VII
178
14
2
Imagem 1. Feira de saúde da USF do Feira VI.
Tabela 2. Levantamento epidemiológico das DEOs, no período de 2005–2019, do CRLB-NUCAO-UEFS.
Variáveis
Frequência Absoluta (n)
Frequência Relativa (%)
Sexo (n=88)
Masculino
43
48,9
Feminino
45
51,1
Sítio Anatômico (n=82)**
Mucosa Jugal
11
13,4
Palato duro e mole
17
20,7
Lábio inferior
19
23,2
Borda lateral, dorso e ventre de língua
13
15,9
Assoalho bucal
07
8,5
Mucosa alveolar superior e inferior
13
15,9
Retromolar
01
1,2
Base do nariz e sulco nasolabial
01
1,2
Diagnóstico histopatológico (n=88)
Displasia leve
27
30,7
Displasia moderada
34
38,6
Displasia severa
27
30,7
*10 casos perdidos; **6 casos perdidos.
Considerações finais
O conhecimento sobre as características clínicas e histopatológicas das DOPMs, além de seu aspecto epidemiológico é fundamental para o diagnóstico precoce e para a prevenção do câncer de boca.
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Referências
Referências
BRENNAN, M et al. Management of oral epithelial dysplasia: a review. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod, v.103 (suppl 1), p. S19.e1-S19.e12, 2007.
NEVILLE, B. W et al. Patologia oral e maxilo facial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 3 ed., 2009
POH, C.F, WILLIAMS, P.M, ZHANG, L., et al. Heads Up! - A Call for Dentists to Screen for Oral Cancer. JCDA, v. 72, n. 5, 2006.
RAMOS, R. T. et al. Leucoplasia Oral: conceitos e repercussões clínicas. Rev. Bras. Odontol, v. 74, p. 51-55, 2017
VAN DER WAAL, I. Potentially malignant disorders of the oral and oropharyngeal mucosa; present concepts of management. Oral Oncology v. 46, n. 6 , p. 423–425, 2010
WARNAKULASURIYA, S. Oral epithelial dysplasia classification systems: predictive value, utility, weaknesses and scope for improvement. Journal of Oral Pathology & Medicine, v. 37, n.3, p. 127–133, 2008
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