A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR, E A OUTRIDADE: ENTRE A LINGUAGEM, O SENTIDO E O TESTEMUNHO
DOI:
https://doi.org/10.13102/ideac.v1i45.7500Resumo
Este artigo busca, a partir das teorias de Freud, Gadamer e Lévinas, pensar um tipo de existência, encarnado no continuum discursivo e desdobrado no real como uma repetição. Trata-se, aqui, de considerar uma personagem literária específica, Macabéa - da novela A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector -, uma nordestina de rosto estranho e fala inquietante que rompe com o tecido da ficção em virtude de sua alteridade incomum. Situada no limiar entre a imaginação e o real, dos seus elementos discursivos na cultura (narrativa, falas, comentários) não se apreende uma feição única, nem um retrato elucidatório e matematizado, ainda que se incorra na facilidade fenomenológica husserliana de reduzi-la à unidade do sujeito espelhado ou projetado. Trata-se de uma personagem literária importante pela sua aura misteriosa. Seria uma mulher simplesmente alienada? Ou uma anti-heroína em estado bruto, com potencial para o despertar da sua condição sóciopolítica? Uma pessoa banal, sem filiação às "grandes narrativas"? Um outro radical, ou seja, uma outridade segundo Lévinas? Enfim, o que é a mente Macabéa?Downloads
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