VILÉM FLUSSER E A POESIA CONCRETA
CONSIDERAÇÕES SOBRE A RETÓRICA E O PROBLEMA DA INTERPRETAÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.13102/ideac.v1i49.10281Resumo
A relação entre o pensamento filosófico de Vilém Flusser e a poesia concreta (e, especialmente, com o poeta Haroldo de Campos), é marcada por uma crítica ao mesmo tempo peculiar e complexa. O pensador tcheco-brasileiro se mostra um grande entusiasta da radicalidade daquela poesia no trato da linguagem, mas, ao mesmo tempo, considera-a tímida em seus resultados, pelo fato de ela ainda se sustentar em um caráter semântico tradicional dos termos ou apresentar, como parte de sua narrativa, um conteúdo de engajamento político. Por outro lado, a contundência da crítica flusseriana não recebeu, por parte de Haroldo de Campos e dos demais poetas concretos, reconhecidos por não se furtarem às polêmicas em que se viram envolvidos, uma reação análoga e da qual pudéssemos usufruir um aprofundamento do debate. No presente artigo, retomarei um tema em filosofia da arte que venho desenvolvendo nos últimos anos, inspirado nos conceitos de retórica e interpretação, de Arthur Danto, para defender que a querela e o afastamento entre Flusser e a poesia concreta é resultado de um conflito entre as suas distintas retóricas e pelo caráter ilustrativo da interpretação na crítica flusseriana àquela poesia.
Palavras-chave: Vilém Flusser; Haroldo de Campos; Poesia concreta; Questão retórica; Problema da interpretação.
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