EPISTEMOLOGIA DO RECONHECIMENTO
INVISIBILIDADE E CEGUEIRA ENTRE RACISMO E BRANQUITUDE
DOI:
https://doi.org/10.13102/ideac.v1i49.10400Resumo
Este trabalho aborda a relação entre um par que compõe o racismo: a invisibilidade das pessoas negras e a cegueira da branquitude. Um caminho possível para a superação do racismo é o que aqui denominamos “epistemologia do reconhecimento”. Com ela buscamos compreender os processos que possibilitam o reconhecimento do outro e de si mesmo como ser humano, tal como a denegação desse reconhecimento como efeito do racismo. Trata-se de uma revisão bibliográfica que toma como referencial teórico um diálogo entre as teorias do reconhecimento, de base hegeliana, de Frantz Fanon e Axel Honneth. Abordamos a distinção entre as perspectivas do observador e do participante; a tese de que o reconhecimento precede o conhecimento na gênese das relações humanas; a relação entre racismo, invisibilidade e cegueira; a alteração da lógica do primado do reconhecimento induzida pelo racismo. Nossos resultados passam pelos processos afetivos da infância, base da precedência do reconhecimento sobre o conhecimento, que é desafiada pela reificação racista que leva ao esquecimento do reconhecimento. O diálogo profícuo entre os pensamentos de Honneth e Fanon revela uma compreensão da interdição racista ao reconhecimento, mas também suas contradições e possibilidades em contexto complexo de reconhecimento fronteiriço.
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