VILÉM FLUSSER E A POESIA CONCRETA
DO ELOGIO AO NOVO HOMEM À CRÍTICA AO POETA ENGAJADO
DOI:
https://doi.org/10.13102/ideac.v1i49.11117Resumo
RESUMO: Em Fenomenologia do brasileiro, Vilém Flusser afirma que o contexto a-histórico nacional poderia favorecer o surgimento do novo homem, mas que este apareceria de modo obrigatório no campo da cultura. No espaço da literatura, ele exalta o movimento da poesia concreta. Posto isso, a proposta central deste ensaio é investigar os caminhos teóricos que permitem aproximar a filosofia da linguagem de Flusser e a prática poética dos concretos, e que fizeram Flusser animar-se com estas produções dos anos 1950 e 1960. Para Flusser, a referida poesia levantou consciência nova sobre o aspecto visual da palavra, passou a combinar letras com não-letras e reformulou problemas gráficos e de paginação. Todavia, quando retorna à Europa e avalia suas interlocuções no Brasil, Flusser muda o tom em relação ao movimento, sobretudo no que compete ao trabalho de Haroldo de Campos, com quem rompe após traduzir fragmentos das Galáxias. Sendo assim, a parte final deste ensaio indica algumas das razões desta mudança crítica de perspectiva.
PALAVRAS-CHAVE: Vilém Flusser; Poesia concreta; Língua; Engajamento; Haroldo de Campos.
ABSTRACT: In Fenomenologia do brasileiro, Vilém Flusser states that the national a-historical context could favour the emergence of the new man, but that this would appear in an obligatory way in the field of culture. In the field of literature, he exalts the concrete poetry movement. In this sense, the central purpose of this essay is to investigate the theoretical paths that allow Flusser's philosophy of language and the poetic practice of the concretes to be brought closer together, and which made Flusser enthusiastic about these productions of the 1950s and 1960s. For Flusser, this poetry raised new awareness of the visual aspect of the word, began to combine letters with non-letters and reformulated graphic and layout problems. However, when he returned to Europe and evaluated his interlocutions in Brazil, Flusser changed his tune in relation to the movement, especially with regard to the work of Haroldo de Campos, with whom he broke with after translating fragments of Galáxias. Therefore, the final part of this essay indicates some of the reasons for this critical change of perspective.
KEYWORDS: Vilém Flusser; Concrete poetry; Language; Engajament; Haroldo de Campos.
Downloads
Referências
BÜRGER, Peter. Teoria da vanguarda. Trad. José Pedro Antunes. São Paulo: Cosac Naif, 2012.
DE CAMPOS, Augusto. Sem palavras. In: ____ Poesia, antipoesia, antropofagia. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978, p. 83-90. O texto foi publicado originalmente em 1967.
DE CAMPOS, Haroldo. Comunicação na poesia de vanguarda. In:____ A arte no horizonte do provável. São Paulo: Perspectiva, 2010, p. 131-154.
DE CAMPOS, Haroldo. evolução de formas: poesia concreta. In: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1962. DE CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; DE CAMPOS, Haroldo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006a, p. 77-87. Texto publicado originalmente em 13/1/1957.
DE CAMPOS, Haroldo. poesia concreta-linguagem-comunicação. In: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1962. DE CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; DE CAMPOS, Haroldo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006b, p. 105-124. Texto publicado originalmente em 28/04/1957 e 5/05/1957.
DE CAMPOS, Haroldo. a temperatura informacional do texto. In: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1962. DE CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; DE CAMPOS, Haroldo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006c, p. 189-204. Texto publicado originalmente em julho de 1960.
DE CAMPOS, Haroldo. da fenomenologia da composição à matemática da composição. In: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1962. DE CAMPOS, Augusto; PIGNATARI, Décio; DE CAMPOS, Haroldo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006d, p. 133-136. Texto publicado originalmente em 23/06/1957.
DE CAMPOS, Haroldo. Texto e história. In:____ A operação do texto. São Paulo: Perspectiva, 1976, p. 13-22.
FLUSSER, Vilém. Concreto-abstrato. In:____ Da religiosidade: a literatura e o senso de realidade. São Paulo: Escrituras, 2002, p. 147-153.
FLUSSER, Vilém. Língua e Realidade. São Paulo: Annablume, 2007a.
FLUSSER, Vilém. Sobre a palavra design. In: ____ O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. Trad. Raquel Abi-Sâmara. São Paulo: Cosac Naif, 2007b, p. 180-186.
FLUSSER, Vilém. Bodenlos: uma autobiografia filosófica. São Paulo: Annablume, 2007c.
FLUSSER, Vilém. Nosso programa. In:____ Pós-História: vinte instantâneos e um modo de usar. São Paulo: Annablume, 2011a, p. 37-45.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: para uma futura filosofia da fotografia. São Paulo: Annablume, 2011b.
FLUSSER, Vilém. Fenomenologia do brasileiro. Org. Gustavo Bernardo. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.
FLUSSER, Vilém. A História do Diabo. São Paulo: Annablume, 2008.
PIGNATARI, Décio. A situação atual da poesia no Brasil. In: Anais do Segundo Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, 1961, p. 371-406.
PIGNATARI, Décio. Nova poesia: concreta (manifesto). In: Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1962. CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006, p. 67-70. Texto publicado originalmente em novembro/dezembro de 1956.