“CULTURA NEGRA”, “POPULAÇÃO NEGRA” E POLÍTICAS DE SAÚDE: ABORDAGENS ETNOGRÁFICAS AO ESTUDO DA POLÍTICA DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA EM SALVADOR, BAHIA
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v14i1.1460Resumo
Esse artigo analisa o uso de noções de “cultura negra”, “raça” e “an- cestralidade” nos programas relacionados à política pública denominada de “Saúde da População Negra” na cidade de Salvador, Bahia. Implementadas a partir de meados da década de 2000, essas políticas têm como fundamenta- ção e objetivo a redução de iniquidades raciais, estatisticamente aferidas, em indicadores de saúde e acesso aos serviços de atenção à saúde, com ações como a difusão de conhecimento sobre doenças tidas como características da “população negra”, o treinamento e qualificação de profissionais da área da saúde no conhecimento e protocolos de atenção a essas doenças, e a realização de feiras de promoção à saúde. Para mostrar os elos, tanto explícitos quanto implícitos, presentes nessas políticas entre o “corpo negro”, “cultura negra” e noções históricas mais amplas sobre a natureza “miscigenada” da população brasileira, analiso etnograficamente duas ações: uma feira de saúde realizada num tradicional terreiro da cidade, e a difusão de material in- formativo sobre a doença falciforme entre familiares de pessoas recém diagnosticadas. Argumento existir uma certa ambiguidade e polissemia no desenho, implementação e recepção dessas políticas públicas, estando em constante diálogo tanto com noções mais amplas quanto mais restritas do que seria a “negritude”.
Downloads
Métricas
Referências
CALVO-GONZÁLEZ, E.; ROCHA, V. “Está no sangue”: a articulação de ideias sobre “raça”, aparência e ancestralidade entre famílias de portadores de doença falciforme em Salvador, Bahia. Revista de Antropologia, v. 53, n. 1, p. 276-320, 2010.
CAVALCANTI, J. M. Doença, sangue e raça: o caso da anemia falciforme no Brasil, 1930-1940. Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde. Rio de Janeiro, Casa de Oswaldo Cruz-FIOCRUZ. Mestrado em História da Ciência, n. 137, 2007.
COSTA, S. Dois Atlânticos: teoria social, anti-racismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
DE AZEVEDO, C. M. M. Anti-racismo e seus paradoxos: reflexões sobre cota racial, raça e racismo. São Paulo: Annablume, 2004.
DUSTER, T. Backdoor to eugenics. New York: Routledge, 2003.
FRY, P. Ossos do ofício. Horizontes Antropológicos , v. 11, n. 23, p. 271-272, 2005.
FRY, P. H. O significado da anemia falciforme no contexto da “política racial” do governo brasileiro 1995-2004; The significance of sickle cell anemia within the context of the Brazilian government's ‘racial policies’ (1995-2004). História. Ciência. Saúde — Manguinhos, v. 12, n. 2, p. 347-370, 2005.
GUIMARÃES, A. S. A. Depois da democracia racial. Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, v. 18, n. 2, p. 259-268, 2006.
HTUN, M. From “racial democracy” to affirmative action: changing state policy on race in Brazil. Latin American Research Review, v. 39, n. 1, p. 60-89, 2004.
KAHN, J.; P. Sankar. Being specific about race-specific medicine. Health Affairs, v. 25, n. 5, p. w375-w377, 2006.
LAGUARDIA, J. No fio da navalha: anemia falciforme, raça e as implicações no cuidado à saúde. Estudos Feministas, v. 14, n. 1, p. 243-262, 2006.
MAIO, M. C.; MONTEIRO, S. Tempos de racialização: o caso da “saúde da população negra” no Brasil. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, v. 12: 419-446, 2005.
MAIO, M. C.; SANTOS, R. V. Política de cotas raciais, os “olhos da sociedade” e os usos da antropologia: o caso do vestibular da Universidade de Brasília (UnB). Horizontes Antropológi- cos, v. 11, n. 23, p. 181-214, 2005.
SANSONE, L. Pai preto, filho negro. Trabalho, cor e diferenças de geração. Estudos Afro- Asiáticos, v. 25, p. 73-98, 1993.
TAPPER, M. In the blood: Sickle-cell anemia and the politics of race. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1999.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Revista A Cor das Letras
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.