ENTRE A QUESTÃO E O GESTO: REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO DE BASE FENOMENOLÓGICA
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v14i1.1451Resumo
Este artigo aborda algumas dificuldades em se fazer uma apropria- ção de uma leitura fenomenológica atual, tributária da obra de Maurice Mer- leau-Ponty, na prática do trabalho de campo. O dilema inicial de que parti- mos reside na dupla exigência de universalismo, colocado pela perspectiva fenomenológica descritiva — referentes aos processos de constituição da consciência — e relativismo, demandado pelas ciências sociais de base com- preensiva — referente ao reconhecimento de limites culturais a práticas so- ciais e seus significados. Aqui, a percepção de um sujeito encarnado — pre- sente num corpo — será o ponto de partida para a compreensão da experiência e seus sentidos (no mais largo senso do termo: como significado, direção, finalidade, sensação etc.) e para o esforço de presença do pesquisa- dor em campo e na, posterior, análise. Para ilustrar, tomamos como exemplo algumas interpretações “ingênuas” dos próprios autores sobre relatos em seus diários de pesquisa e possíveis releituras destes episódios a partir de ba- ses fenomenológicas. Com isso, procuramos mostrar que, se as ciências soci- ais fenomenológicas não nos oferecem amplos quadros sinópticos compara- tivos, ou fantásticos agregados de dados generalizáveis, por outro lado, nos apresentam a possibilidade apreender as multiplicidades das formas de exis- tir que se configuram a partir do que todos são: seres humanos mutuamente constituídos em um mundo intersubjetivo.Downloads
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