AS CIÊNCIAS SOCIAIS EM SAÚDE: POSSIBILIDADES INVESTIGATIVAS DA ANTROPOLOGIA
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v14i1.1458Resumo
Noções como as de saúde e doença se referem a fenômenos com- plexos, que conjugam fatores biológicos, sociológicos, econômicos, ambien- tais e culturais. As Ciências Sociais, ao analisar práticas de manutenção da saúde, apontam para a insuficiência e limites da biomedicina no trato dos males humanos, revelando o quanto o estado de saúde da população é inti- mamente ligado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. Apesar deste artigo apresentar um apanhando bibliográfico geral, destacando os principais conceitos e posturas metodológicas com que as Ciências Sociais têm contribuído para a compreensão dos processos de saúde/doença, seu principal objetivo é discutir implicações para uma área específica: a delicada relação entre concepções médicas, normatividade, legalidade e o trato com pessoas que apresentam comportamentos “desviantes”, tal como aquelas que fazem uso de Substâncias Psicoativas. Neste sentido, o artigo destaca algumas vantagens do método etnográfico para a compreensão deste fenômeno complexo e sua pertinência para além um campo disciplinar.
Downloads
Métricas
Referências
ACSELRAD, G. A educação para a autonomia: a construção de um discurso democrático sobre drogas. In: Id. (Org.). Avessos do prazer: drogas, AIDS e direitos humanos. Rio de Janei- ro: Ed. FIOCRUZ, 2000.
AGYEPONG, I. A. Malaria Ethnomedical Perceptions and Practice in an Adangbe Farming Community and Implications for Control. Social Sciences and Medicine, n. 35, p. 131-137, 1992.
ALVES, P. C. et al. A experiência da esquistossomose e os desafios da mobilização comunitá- ria. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 14, sup. 2, p. 79-90, 1998.
BECKER, H. Consciência, poder e efeito da droga. In: BECKER, H. Uma teoria da ação coletiva.
Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 181-204.
BECKER, H. The Social Bases of Drug-induced Experiences. In: LETTIERI, J. J.; MAYERS, M.; Pearson, H. W. (Org.). Theories on Drug Abuse. NIDA Research Monograph, n. 30. NIDA, Rockville, 1980, p. 180-190.
CANESQUI, A. M. (Org.). Ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1997.
CARVALHO, J. M. de. Os bestializados. A república que não foi. 6. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.
CHALHOUB, S. Cidade febril. Cortiços e epidemais na corte imperial. São Paulo: Cia. das Letras, 1996.
CORIN, E.; UCHÔA, E.; BIBEAU, G.; HARNOIS, G. Les attitudes dans le champ de la sante mentale. Repères theoriques et methodologiques pour une étude ethnographique et comparative. Rapport Technique. Montréal: Centre de Recherche de l’Hôpital Douglas, Centre Collaborateur OMS, 1989. Mimeo.
CORIN, E.; BIBEAU, G.; MARTIN, J. C.; LAPLANTE, R. Comprendre pour Soigner Autrement. Repères pour Régionaliser les Services de Santé Mentale. Montréal: Presses de l’Université de Montreal, 1990.
CORIN, E.; UCHÔA, E.; BIBEAU, G.; KOUMARÉ, B.; COULIBALY, B.; COULIBALY, M.;
MOUNKORO, P.; SISSOKO, M. La place de la culture dans la psychiatrie africaine d’au jourd’hui. Paramètres pour un cadre de références. Psychopathologie Africaine, n. 24, p. 149-181, 1992a.
CORIN, E.; UCHÔA, E.; BIBEAU, G.; KOUMARE, B. Articulation et variations des systèmes de signes, de sens et d’actions. Psychopathologie Africaine, n. 24, p. 183-204, 1992b.
CORIN, E.; BIBEAU, G.; UCHÔA, E. Eléments d’une sémiologie anthropologique dês troubles psychiques chez les Bambara, Bwa et Soninké du Mali. Anthropologie et Sociétés, n. 17, p. 125-156, 1993.
DOMANICO, A. Craqueiros e cracados — bem vindo ao mundo dos nóias: estudo sobre a implementação de estratégias de redução de danos para usuários de crack nos cinco proje- tos-piloto do Brasil. Tese de Doutorado, PPGCS/UFBA, Salvador, 2006.
EISENBERG, L. Disease and Illness: Distinctions between Profesional and Popular Ideas of Sickness. Culture, Medicine and Psychiatry, n. 1, p. 9-23, 1977.
ESCOHOTADO, A. História elementar das drogas. Lisboa: Antígona, 2004.
GREEN, E. C. Sexuallly Trasmited Disease, Ethnomedicine and Health Policy in Africa. Social Sciences and Medicine, n. 35, p. 121-130, 1992.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
GOOD, B. The Heart of what’s the Matter: the Semantics of Illness in Iran. Culture, Medicine and Psychiatry, n. 1, p. 25-58, 1977.
GOOD, B.; DELVECCHIO GOOD, M. J. The Meaning of Symptoms: a cultural Hermeneutic Model for Clinical Practice. In: EISENBERG, L.; KLEINMAN, A. (Ed.). The Relevance of Social Science for Medicine. Dordrechet: Reideil, 1980, p. 165-196.
GOOD, B.; DELVECCHIO GOOD, M. J. Toward a Meaning-Centered Analysis as Popular Illness Categories: Fright-Illness and Heart Distress in Iran. In: MARSELLA, A. J.; WHITE, G. (Ed.). Cultural Conceptions of Mental Health and Therapy. Dordrechet: D. Reidel, 1982, p. 141-166.
HIELSCHER, S.; SOMMERFIELD, J. Concepts of Illness and the Utilization of Health Care Ser- vices in a Rural Malien Village. Social Sciences and Medicine, n. 21, p. 397-400, 1985.
IRIART, J. A. B. Concepções e representações da saúde e da doença: contribuições da antro- pologia da saúde para a saúde coletiva. Texto didático. Salvador: ISC-UFBA, 2003.
KARAM, M.L. A Lei 11.343/06 e os repetidos danos do proibicionismo. In: ACSELRAD, G. (Org.). Avessos do prazer: drogas, AIDS e direitos humanos. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2000.
KLEINMAN, A. Patients and Healers in the Context of Cultures. An Exploration of Boderland between Anthropology and Psychiatry. Berkeley/Los Angeles: University of California Press, 1980.
KLEINMAN, A. Anthropology and Psychiatry. The Role of Culture in Cross-Cultural Research on Illness. British Journal of Psychiatry, n. 151, p. 447-454, 1987.
KLEINMAN, A.; GOOD, B. (Ed.). Culture and Depression: Studies in Anthropology and Cross- Cultural Psychiatry of Affect and Disorder. Berkeley: University of California Press, 1985.
LITTLEWOOD, R. From Categories to Contexts a Decade of the New Cross-Cultural Psychiatry.
British Journal of Psychiatry, n. 156, p. 308-327, 1990.
MARLATT, G. A. Redução de danos no mundo: um brve histórico. In: MARLATT, G. A. Redu- ção de danos — estratégias práticas para lidar com comportamentos de alto risco. Porto Alegre: Artmed, 1999.
MACRAE, E. Aspectos socioculturais do uso de drogas e redução de danos. http://www.neip. info. Acesso em: 3 maio 2010.
MACRAE, E. A abordagem etnográfica do uso de drogas. In: MESQUITA, F.; BASTOS, F. (Org.).
Drogas e AIDS — estratégias de redução de danos. São Paulo: HUCITEC, 1994, p. 99-114.
MACRAE, E.; SIMÕES, J. A subcultura da maconha, seus valores e rituais entre setores soci- almente integrados. In: BAPTISTA, M. et al. Drogas e pós-modernidade: faces de um tema proscrito. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2003, p. 95-107.
MACRAE, E; VIDAL, S. S. A Resolução 196/96 e a imposição do modelo biomédico na pesqui- sa social. Dilemas éticos e metodológicos do antropólogo pesquisando o uso de substâncias psicoativas. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 49, n. 2, 2006.
MALINOWSKI, B. Sexo e repressão na sociedade selvagem. Petrópolis: Vozes, 1973. PEIRANO, M. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
RABELO, M. C. M. Religião e a transformação da experiência: notas sobre o estudo das práti- cas terapêuticas nos espaços religiosos. Ilha Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 7, p. 125-145, 2007a.
RABELO, M. C. M. Possession, corps et thérapie dans le contexte religieux brésilien. Ethno- graphiques — Revista on-line. Ethnographiques, v. 14, p. 4, 2007b.
RODRIGUES, L. B. Modalidades e estratégias de redução de danos: uma avaliação compara- tiva das ações da ARD-FC e da sua recepção por parte dos usuários de drogas em duas co- munidades soteropolitanas. Salvador: FAPESB/FAMEB/UFBA, 2008.
ROMANI, O. Las drogas — suenõs e razones. Barcelona: Ariel. 1999.
SOUZA, I. M. de A. Produzindo corpo, doença e tratamento no ambulatório: apresentação de casos e registro em prontuário. Mana, Rio de Janeiro, n. 13, v. 2, p. 471-498, 2007.
STOLLER, P. Sensuous Scholarship. Philadelphia: University of Pensilvania Press, 1997. THOMAS, N. Against Ethnography. Cultural Anthropology, v. 6, n. 3, 1991.
UCHÔA, E.; VIDAL, J. M. Antropologia médica: elementos conceituais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 497- 504, out./dez. 1994.
ZINBERG, N. The Social Setting as a Control Mechanism in Intoxicant Use. In: LETTIERI, D.J.; MAYERS, M.; PEARSON, H. W. (Ed.). Theories on Drug Abuse. NIDA Research Monograph, n. 30. NIDA, Rockville, 1980, p. 236-244.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Revista A Cor das Letras
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.