Translinguajamento: pensando entre línguas a partir de práticas e metadiscursos de docentes indígenas em formação superior
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v18i3.1892Resumo
O objetivo deste trabalho é estabelecer a genealogia epistemológica do conceito de translinguajamento a partir de pressupostos teóricos do campo dos estudos decoloniais e compreendê-lo com base em práticas comunicativas e metadiscursos de docentes indígenas em formação superior específica na Universidade Federal de Goiás (UFG). O translinguajamento é apresentado como uma alternativa para problematizar os essencialismos decorrentes da invenção das línguas (MAKONI; PENNYCOOK, 2007) – e, consequentemente, das nações e de outros construtos – e para compreender as práticas comunicativas contemporâneas. Pretendemos mobilizar reflexões relacionadas a práticas híbridas de linguagem, que rompam com a ideologia do monolinguajamento colonial e nacional e considerem a possibilidade de pensar entre línguas, na fronteira, conforme sugere Mignolo (2003), considerando o processo de globalização e os contextos locais e pensando a interculturalidade de forma crítica, marcada por processos de interação amplamente diversificados e profundamente afetados pela diferença colonial. Além disso, procuramos evidenciar e compreender como práticas e metadiscursos relacionados a essa ideia de translinguajamento se manifestam em um contexto de formação de docentes indígenas no curso de Licenciatura em Educação Intercultural da Universidade Federal de Goiás, a partir de dados orais e escritos gerados em sala de aula, em uma análise com direcionamento metodológico qualitativo e de cunho etnográfico. Considera-se o translinguajamento como uma alternativa para desinventar e reconstituir as línguas, questionando concepções fixas e totalizantes sobre linguagem, sobretudo em situações em que a complexidade social reconfigura os mapas linguísticos e exige novas perspectivas, como é o caso dos povos indígenas no Brasil. Para tanto, partimos da ideia de que o translinguajamento pode, inclusive, ser utilizado como uma estratégia de negociação nas relações interculturais, intrinsicamente constituídas na fluidez e no hibridismo, fundamentadas na mobilização de recursos pertencentes a repertórios linguísticos diversos, móveis e heterogêneos.
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