O uso da língua para a discriminação

Autores

  • Raquel Meister Ko. Freitag UFS
  • Marcus Eugenio Oliveira Lima UFS
  • Lucas Santos Silva UFS
  • Victor Renê Andrade Souza UFS

DOI:

https://doi.org/10.13102/cl.v21i1.5233

Resumo

Analisamos uma postagem no Twitter do Ministro da Educação da República Federativa do Brasil que motivou a Procuradoria Geral da República a instaurar inquérito para apuração de crimes resultantes de preconceito e discriminação. No texto da postagem, sistematicamente o “r” é trocado por “l”, em caixa alta. O conteúdo evoca as histórias da Turma da Mônica, cujo enredo gira em torno de “planos infalíveis” de Cebolinha e Cascão para derrotar Mônica. Por analogia, a China estaria envolvida em um plano conspiratório para disseminar a COVID-19. Demonstramos como a manipulação de um traço linguístico pode evocar discriminação e preconceito.

Downloads

Métricas

Visualizações em PDF
1,439
May 01 '20May 04 '20May 07 '20May 10 '20May 13 '20May 16 '20May 19 '20May 22 '20May 25 '20May 28 '2075
| |

Referências

ABRAÇADO, J.; MARTINS, M. A. (Ed.). Mapeamento sociolinguístico do português brasileiro. Editora Contexto, 2015.

ADORNO, T.W. et al. The authoritarian personality. New York: Harper, 1950.

ALLPORT, G.W. The nature of prejudice. 3. ed. Wokingham: Addison-Wesley, 1979.

AMARAL, A. O Dialeto caipira. São Paulo: HUCITEC/Secretaria da Cultura, 1976.

BILLIG, M. Racismo, prejuicios y discriminacion. In: MOSCOVICI, S. (Ed.). Psicologia Social II: Pensamiento y vida social. Barcelona: Paidós, 1984, p. 575-600.

BLANK, C. A.; ZIMMER, M. C. A transferência fonético-fonológica L2 (francês)–L3 (inglês): um estudo de caso. Revista de Estudos da Linguagem, v. 17, n. 1, p. 207-233, 2009.

BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

BRASIL. Código de Conduta da Alta da Administração Federal, de 21 de agosto de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/codigos/codi_conduta/cod_conduta.htm>. Acesso em: 20 de abr. 2000.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRASIL. Lei 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRASIL. Lei 7.716, de 5 de janeiro 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRASIL. Lei 9.610, de 19 de janeiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 19 abr. 2020.

BRESCANCINI, C.; MONARETTO, V. N. de O. Os róticos no sul do Brasil: panorama e generalizações. Signum, n. 11, p. 51-66, dez. 2008.

CASTRO, V. S. O “r caipira” em Mato Grosso do Sul–estudo baseado em dados do ALMS, Atlas linguístico do Mato Grosso do Sul. Estudos Linguísticos, v. 42, n. 1, p. 566-575, 2013.

COAN, M.; FREITAG, R. M. K. Sociolinguística variacionista: pressupostos teórico-metodológicos e propostas de ensino. Domínios de Lingu@gem, v. 4, n. 2, p. 173-194, 2010.

COSTA, L. T. da. 2011. 173 f. Abordagem dinâmica do rotacismo. Tese (Doutorado em Linguística) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, 2011. 173 f.

COSTA, L. T. da. Análise variacionista do rotacismo. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, v. 5, n. 9, p.1-29, 2007.

COSTA, L. T. da. Fenômenos variáveis e variantes líquidas produzidas no ataque complexo. Acta Scientiarum, Language and Culture, v. 35, n. 2, p. 179-186, 2013.

DOVIDIO, J. F. et al. Prejudice, stereotyping and discrimination: Theoretical and empirical overview. In: DOVIDIO, J.F. et al. (Eds.). The SAGE handbook of prejudice, stereotyping and discrimination. Califórnia: SAGE, 2010, p. 3-29.

DUANMU, S. Chinese (Mandarin): phonology. In: BROWN, K. (Ed.) Encyclopedia of Language and Linguistics, 2nd Edition. Oxford, UK: Elsevier Publishing House, p. 351-355, 2005.

EAGLY, A. H.; DIEKMAN, A. B. What is the problem? Prejudice as an attitude–in-context. In: DOVIDIO, J. F.; GLICK, P.; RUDMAN, L. A. (Eds.). On the Nature of Prejudice: Fifty Years After Allport. Oxford: Blackwell, 2008, p. 19-35.

FIGUEIREDO, F. J. Q. de. Aquisição e aprendizagem de segunda língua. Signótica, v.3, p. 39-57, 1995.

FLEGE, J. E. Second language speech learning: Theory, findings, and problems. Speech perception and linguistic experience: Issues in cross-language research, v. 92, p. 233-277, 1995.

FREITAG, R. M. K. et al. Como o brasileiro acha que fala? Desafios e propostas para a caracterização do" português brasileiro". Signo y seña, n. 28, p. 65-87, 2015.

FREITAG, R. M. K. et al. Como os brasileiros acham que falam? Percepções sociolinguísticas de universitários do Sul e do Nordeste. Todas as Letras-Revista de Língua e Literatura, v. 18, n. 2, 2016.

FREITAG, R. M. K. et al. Vamos prantar frores no grobo da terra: estudando o rotacismo nas séries iniciais da rede municipal de ensino de Moita Bonita/SE. RevLet-Revista Virtual de Letras, v. 2, p. 17-31, 2010.

FREITAG, R. M. K. Sociolinguística no/do Brasil. Cadernos de Estudos Lingüísticos, v. 58, n. 3, p. 445-460, 2016.

GARDNER, R.; LAMBERT, W. Attitudes and motivation in second language learning. Rowley: Newbury House, 1972.

GASS, S. M.; SELINKER, L. Second language acquisition: An introductory course. Routledge, 2008.

GHANDOUR, H.; KADDAH, F. Factors affecting stimulability of erred sounds in common types of dyslalia. Egyptian Journal of Ear, Nose, Throat and Allied Sciences, v. 12, n. 1, p. 61-67, 2011.

GIORDANI, M. N. P. O rotacismo em final de sílaba. Filologia e Linguística Portuguesa, v. 7, n. 7, p. 129-134, 2005.

GRIFFIN, K. Lingüística aplicada a la enseñanza del español como 2/L. 2 ed. Madrid: Arco Libros, 2011.

HILL, J. H. Language, race, and white public space. American anthropologist, v. 100, n. 3, p. 680-689, 1998.

INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL/PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA. Inquérito 0004827, de 10 de abril de 2020. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/pgr-inquerito-weintraub-racismo-chineses.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2020.

JONES, J. M. Racismo e preconceito. São Paulo: Edgard Blücher, 1972.

LIMA, M. E. O.; VALA, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia, v. 9, n.3, 2004, p. 401-412.

LIPPMANN, W. Public opinion. Nova York: Harcourt Brace, 1922.

MARTÍN, J. M. La adquisición de la lengua materna (L1) y el aprendizaje de una segunda lengua (L2)/lengua extranjera (LE): procesos cognitivos y factores condicionantes. In: LOBATO, S. J.; GARGALLO, I. S. Vademécum para la formación de profesores: enseñar español como segunda lengua (L2)/lengua extranjera (LE). Madrid: SGEL, 2004.

MARTINS, M. O português dos chineses em Portugal – O caso dos imigrantes da área do comércio e restauração em Águeda. 2008. Dissertação (Mestrado em Estudos Portugueses), Universidade de Aveiro, 2008.

MONARETTO, V. N. de O. A vibrante pós-vocálica em Porto Alegre. In: BISOL, L.; BRESCANCINI, C. (Org.). Fonologia e variação: recortes do Português Brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, p. 253-268.

NOH, A. I. C. et al. Dislalia asociada a hábitos orales. Oral, v. 13, n. 41, p. 865-869, 2012.

OCHS, E. Indexing gender. New York: Cambridge University Press, 1992.

OLIVEIRA, D. M. de. Percepção e produção de sons consonânticos do português europeu por aprendentes chineses. 2016. Dissertação (Mestrado em Português Língua Não Materna), Universidade do Minho, 2016.

PAIVA, M. da C. de; SCHERRE, M. M. P. Retrospectiva sociolingüística: contribuições do PEUL. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 15, n. SPE, p. 201-232, 1999.

PINHEIRO, B. F. M.; FREITAG, R. M. K. Estereótipos na concordância de gênero em profissões: efeitos de frequência e saliência. Linguística, 2020.

REIS, G. F. M. dos. Cravícula e carcanhá: a incidência do rotacismo no falar maranhense. Revista Littera, v. 1, nº 1, p. 33-40, 2010.

RODRIGUES, A.; ASSMAR, E. M. L.; JABLONSKI, B. Psicologia Social. 18. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999.

ROMANO, V. P.; FONSECA, C. G. Uma abordagem sociodialetológica do fenômeno do rotacismo no município de Itajubá-MG. Web-revista sociodialeto, v. 6, n. 16, 2015.

RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. Português brasileiro II: contato lingüístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. Português brasileiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.

SCHERRE, M. M. P. Padrões sociolinguísticos do português brasileiro: a importância da pesquisa variacionista. Tabuleiro de Letras, n. 4, 2012.

SIBLEY, C. G.; BARLOW, F. K. What is prejudice? An introduction. In: BARLOW, F. K.; SIBLEY, C. G (Eds.). The Cambridge Handbook of the Psychology of Prejudice: Concise Student Edition. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, p. 1-14

SILVA, A. J. B. da. Português de arremedo: um lado do preconceito linguístico no Brasil. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v.61, p. 1-19, 2019.

SILVA, T. B.; SIMIONI, T. O personagem Chico Bento como recurso didático e o que ele revela sobre os conhecimentos de variação linguística de professores e futuros professores. Guavira Letras, v. 11, n. 21, 2016.

SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2005.

SOUZA, G. de L.; SILVA, R. M. da C.; COUTINHO, D. J. G. Dislexia e dislalia: necessidades e possibilidades na prática inclusiva. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 12, p. 32009-32018, 2019.

STANGOR, C. Stereotypes and Prejudice: Essential Readings. Philadelphia, PA: Psychology Press, 2000.

STANGOR, C.; LANGE, J. Mental representation of social groups: advances in understanding stereotypes and stereotyping. Advances in experimental social psychology, v. 26, p. 357–416, 1994.

STEPHAN, W. G.; STEPHAN, C. W. An Integrated Threat Theory of Prejudice. In: OSKAMP, S. (Ed.). Reducing prejudice and discrimination. Nova Jersey: Lawrence Erlbaum, 2000, p 23-45.

ZANNA, M., P.; REMPEL, J. K. Attitudes: A new look at an old concept. In: BAR–TAL, D.; KRUGLANSKI, A. W.(Ed.). The social psychology of knowledge. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1988, p. 315-334.

ZHOU, C. Contributo para o estudo da aquisição das consoantes líquidas do português europeu por aprendentes chineses. 2017. Dissertação (Mestrado em Linguística), Universidade de Lisboa, 2017.

Downloads

Publicado

2020-04-30

Como Citar

Freitag, R. M. K., Lima, M. E. O., Silva, L. S., & Souza, V. R. A. (2020). O uso da língua para a discriminação. A Cor Das Letras, 21(1), 185–207. https://doi.org/10.13102/cl.v21i1.5233

Edição

Seção

Dossiê temático: Políticas e Contatos Linguísticos