Indígenas alfabetizados em Português no litoral baiano setecentista: o caso de Vila de Abrantes
DOI:
https://doi.org/10.13102/cl.v18i2.1919Resumo
Apresentamos, neste trabalho – a partir da análise de documentos da fundação da Vila de Abrantes (arrolados como “Dossiê dos Índios”, depositados no Arquivo Público da Bahia (Maço 603, Caderno 11)) –, evidências de mamelucos alfabetizados no litoral baiano, em meados do século XVIII, condição que os levou a assumirem cargos, entre outros, de escrivão, juiz e capitão de ordenanças do Aldeamento do Espírito Santo, que deu origem à referida Vila, no dia 18 de setembro de 1758, em ação coordenada pelo Juiz de Fora da Cidade de Salvador, João Ferreira Bittencourt e Sá. Os documentos revelam que a maioria dos indígenas entendiam e falavam o português na nova Vila de Abrantes, nos setecentos; poucos sabiam ler e escrever, todavia, e os que eram alfabetizados se tratavam de mestiços; oito mamelucos alfabetizados assumiram cargos na administração da Vila, havendo registros de assinatura de cinco deles em petição reivindicando terras. Para além desses fatos no litoral, apontamos aqui caminhos para o estudo da inserção do indígena na escrita portuguesa, nos sertões baianos. É possível, a nosso ver, encontrar fontes produzidas por indígenas escolarizados, a partir do século XVII, na região do semiárido, na área do Rio São Francisco e das Jacobinas e em áreas vizinhas, onde houve aldeamentos nos seiscentos e setecentos, organizados à maneira dos aldeamentos do litoral.
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